sexta-feira, 30 de abril de 2010

AÇÚCAR: docinho ou 'amargo' ?



No dia 20/04, foi ao ar no Jornal Nacional, uma breve reportagem alertando sobre a quantidade de açúcar adicionada aos alimentos industrializados, e as últimas 'descobertas' - já sabidas - das alterações orgânicas após sua ingestão em grande quantidade - principalmente - como presenciamos atualmente.

Este estudo liga, pela primeira vez, o excesso de açúcar ao aumento dos níveis de colesterol, gerando problemas cardiovasculares.

E se você esta pensando que o problema esta apenas naquele açúcar branquinho que chega a doer a vista de tanto que brilha, e vai sair correndo para a próxima loja de produtos 'naturais' para comprar suas reservas de docinhos - 'naturais' -, mero engano. Pois como já explica Sonia Hirsh em seu livro 'Sem açúcar, Com afeto' - "não importa se é açúcar orgânico, mascavo ou mel (menos piores do que os refinados sem duvida, mas...) o problema é a super concentração de açúcar; que quando ingerido, vai depressa demais para a corrente sanguínea, queimando todas as etapas da digestão, fazendo subir o nível da glicose no sangue, aí o pâncreas é obrigado a produzir uma quantidade extra de insulina. A insulina vai lá e abaixa o nível, aí da vontade de comer mais açúcar. Sobe o nível e o pâncreas solta insulina, abaixa o nível… E assim por diante, até chegar uma hora que o pâncreas não entende mais nada."

E se acha que esta livre de problemas, pois optou por adoçantes artificiais, nao se iluda - se informe! Ate mesmo o Xarope de Agave, vendido em milhares de lojas de produtos 'naturais' nos Estados Unidos, e há pouco introduzido nas prateleiras de nossas lojas 'naturais', também já foi desmascarado em estudos recentes realizados por médicos conceituados nos Estados Unidos (estarei postando em breve).

Ah, e não se esqueça - o AÇÚCAR - cristal, refinado, orgânico, liquido, confeiteiro, de beterraba, etc., ou xaropes simples, invertido, disso ou daquilo - são adicionados também a pães (mesmos os salgados), a enlatados, molhos e assim por diante. Logo, estão escondidos em 'alimentos' diversos (no mundo dos industrializados) - uma enxurrada de açúcar em 'nosso' organismo dia após dia.

Para refletir: Qualquer alimento - antes equilibrado - após passar pelas mãos do Homem, é melhor começar a desconfiar. Pois pegamos esse alimento, e 'destruímos' todos seus benefícios - ou equilíbrio - uma vez existente, através do refinamento químico, ou processamento um tanto 'bombástico'.

Por isso, nos voltemos MAIS UMA VEZ para os produtos retirados diretamente da Mãe Terra e docinhos por si só - as frutas!!! Mas calma, eu sei, gostamos de criar e misturar e enfeitar, e quem disse que isso não é possível?? Podemos fazer tudo isso sem utilização dos processados, refinados, super refinados e químicos.

Um brinde a vida e Saúde!

http://misturaviva.blogspot.com/2010/04/acucar-docinho-ou-amargo.html

terça-feira, 27 de abril de 2010

‘Ser vegetariano é respeitar e salvar o planeta que nos permite a vida’


Entrevista com a nutricionista chilena Nelba Villagrán

“É necessário que despertemos, que voltemos a respeitar o nosso planeta e a melhorar a produção. Ser vegetariano é ser ecológico e salvar o planeta que nos permite a vida”, afirma a nutricionista chilena Nelba Villagrán.

Nutricionista pela Universidade de Chile, Nelba Villagrán é, além de engenheira em alimentos, professora na Universidade Finis Térrea, presidenta do Colégio de Nutricionistas Universitários do Chile, especialista no manejo higiênico dos alimentos e presidenta do capítulo chileno da Associação Hispano-americana de Alimentação Natural, Ortomolecular e Anti-Envelhecimento.


Por que é vegetariana?


Sofri uma crise de uma doença auto-imune que se chama episclerite. Após vários diagnósticos que realmente não resolveram nada recorri a um médico naturalista, que me fez deixar de consumir carnes e assumir um tratamento de plantas medicinais. Já se passaram aproximadamente 18 anos. Além disso, tinha uma crise de asma nas primaveras, que solucionei deixando de consumir lácteos. Este tem sido um mundo totalmente contrário ao que se estuda nas áreas científicas de nutrição, mas existe e não podemos deixar de vê-lo. Felizmente, cada dia há mais pessoas que te escutam e isso já é uma grande vantagem.

Quais são os pilares da alimentação que você promove?

A alimentação deve ser integral, com alimentos que não tenham sido polidos, que estejam sendo consumidos da maneira como a natureza os criou, porque a natureza nos deu todos os elementos dentro de um grão completo de arroz, por exemplo, ou um grão completo de trigo. O segundo pilar é consumir a maior parte disto cru, o que for possível, como os vegetais e as frutas. Um alimento vivo é aquele que contém todas as enzimas e para isso tem que estar cru ou levemente cozido num refogado na [panela] wok ou levemente passado no calor sem que tenha perdido todas as suas enzimas, que são a fonte da vida. Por último, este alimento deve ser natural, produzido pela natureza e com o mínimo de processos realizados pelo homem. Estes três pilares oferecem ao ser humano todos os elementos nutritivos que a natureza nos deu.

Quais são os mitos de ser vegetariano?

O principal mito é que os vegetarianos não têm opções para proteínas de boa qualidade, assumindo que as pessoas comem alimentos puros ou monotonamente um único tipo de alimento e desconhecendo que o que comemos são misturas de alimentos, que o que comemos num dia se complementa durante o dia e que o que teríamos que somar são aquelas partículas ou aqueles componentes dos alimentos que vão fazer parte de novas estruturas do nosso corpo. Por exemplo, nós podemos conhecer proteínas que não contenham em si mesmos todos os aminoácidos essenciais, mas se na refeição seguinte ou durante o dia for comer outros alimentos, então vão me trazer um aporte complementar.

Antigamente se dizia que se eu não comer feijões com massas não poderia obter um complemento de lisina e de metionina, que eram deficitários em cada um deles, mas atualmente já se sabe que não é necessário que vão ao prato. Pode ser que durante o dia o complemente com outras verduras, com outros cereais, com outros grãos, mas também se descobriu que há grãos que contêm todos os aminoácidos essenciais, como por exemplo, a quinoa, o amaranto e outros alimentos que ainda não conhecemos e que no nosso caso, que somos países andinos, temos nas culturas andinas alimentos extraordinários, ricos em proteína.

O que a inspira a dar aulas de cozinha vegetariana tanto no Chile como no exterior?

A nutrição não é fabricada nos laboratórios de nutrição nem de bioquímica, mas no laboratório da cozinha de cada casa. Dava-me conta de que as ofertas que havia de cozinha vegetariana eram quase todas orientadas para a cozinha hindu, a cozinha oriental, que não é o que as pessoas comuns comem. E então, quando eu atendia uma família no consultório e esta me dizia “sim, mas como coloco isso em prática”, numa consulta curtinha, de uma hora, pode-se indicar às pessoas todas estas soluções caseiras. Me ocorreu fazer um curso que incorporasse o fundamento científico no elemento gastronômico, e creio que a solução para a orientação nutricional das pessoas passa por uma união entre os profissionais da nutrição e os profissionais da cozinha.

Qual foi a recepção das pessoas que participaram destes cursos?

Muito boa. Por exemplo, o fato de ensinar às pessoas a obter um leite vegetal a partir de amêndoas, a partir do gergelim ou da soja, é algo que acham interessante e que se dão conta de que podem usá-lo como ferramenta.

A alimentação chilena


O que acha da estrutura alimentar dos chilenos? Quais os aspectos que poderiam ser melhorados?

Dizem as autoridades que a população chilena está se alimentando muito melhor porque tem acesso e consome alimentos de maior valor nutritivo em grandes quantidades, equivalente aos países desenvolvidos, vale dizer, carnes. E eu me pergunto: se todos os sinais que os fóruns internacionais de nutrição – que relacionam o alto consumo de carne com a obesidade, com as doenças crônicas degenerativas, com a diabete, com a hipertensão arterial – estão dando, então estamos em trilhos diferentes, estamos transmitindo em sintonias absolutamente divergentes.

Há pessoas que estão comendo meio quilo diário de carne e essas pessoas estão tendo doenças crônicas que nunca vão relacionar com o que comem. Desde o Mal de Alzheimer, a artrite, a artrose e uma série de outras patologias que estão associadas a dietas com altíssimos consumos de alimentos protéicos. O consumo de legumes como feijão, grão-de-bico, lentilha, é irrelevante e são os grãos que são ricos em proteínas e não só isso, mas também elementos de hidrato de carbono saudáveis e alguns fotoquímicos que já são reconhecidos como terapêuticos.

Bom e para que falar dos consumos de vegetais como hortaliças verdes, vermelhas, roxas, alimentos de todos os tipos de cores. A cor, por exemplo, vermelha, dos tomates, está relacionada com o licopeno. O licopeno é um fotoquímico já comprovado que é um preventivo do câncer de próstata. Há algumas cores, como o roxo dos arandos ou de algumas berries, que estão relacionadas também com poderosos antioxidantes antienvelhecimento.

A nutrição, na realidade, é o futuro da saúde e tomara que mais pessoas participem conosco neste conhecimento, porque teríamos menos farmácias. Atualmente, no Chile, há quase uma farmácia em cada quadra. Isso nos indica que a população está cada dia mais doente.

Respeitar o planeta


O que nos recomenda diante dos atuais problemas da mudança climática que estamos vivendo?


A medicina ayurvédica, que é a medicina da vida, diz que o ser humano faz parte do cosmos. Também os chineses relacionam o ser humano não apenas com o planeta, mas também com o universo. E a ciência descobriu que cada átomo que forma o nosso corpo, é cada átomo que forma o planeta e cada átomo que forma também os demais planetas e o universo inteiro. Cada movimento que se faz em alguma parte deste planeta, afeta a vida.

Dados da FAO indicam que 70% da floresta amazônica se converteu em pastos ou em produção de alimentos para animais. 80% da área agrícola nos Estados Unidos é destinada à criação de animais e apenas 7% à produção de alimentos humanos. Acontece que nessa mesma área, por cada quilo de carne produzida, podem ser produzidos 160 quilos de batatinhas ou 200 quilos de tomate. Mais de 70% dos cereais produzidos em países desenvolvidos são destinados à alimentação de animais com a finalidade de produzir carne.

O que produz saúde é a produção de vegetais, mas 80% da produção de soja e 50% da produção de milho é utilizada para alimentar animais ou inclusive como etanol. Estamos utilizando diesel de milho. Para produzir menos de um quilo de frango se requer de 3.000 litros de água que não vão produzir hortaliças. Entretanto, para produzir esta mesma quantidade de alface, necessita-se apenas de 23 galões de água.

É necessário que despertemos, que voltemos a respeitar o nosso planeta e a melhorar a produção. Ser vegetariano é ser ecológico e salvar o planeta que nos permite a vida.

A entrevista está publicada no jornal chileno El Ciudadano, 16-04-2010. A tradução é do Cepat.

Fonte: Ecodebate

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ecologia Profunda: Um Novo Paradigma



Crise de Percepção

À medida que o século se aproxima do fim, as preocupações com o meio ambiente adquirem suprema importância. Defrontamo-nos com toda uma série de problemas globais que estão danificando a biosfera e a vida humana de uma maneira alarmante, e que pode logo se tornar irreversível. Temos ampla documentação a respeito da extensão e da importância desses problemas.

Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes. Por exemplo, somente será possível estabilizar a população quando a pobreza for reduzida em âmbito mundial. A extinção de espécies animais e vegetais numa escala massiva continuará enquanto o Hemisfério Meridional estiver sob o fardo de enormes dívidas. A escassez dos recursos e a degradação do meio ambiente combinam-se com populações em rápida expansão, o que leva ao colapso das comunidades locais e à violência étnica e tribal que se tornou a característica mais importante da era pós-guerra fria.

Em última análise, esses problemas precisam ser vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção. Ela deriva do fato de que a maioria de nós, e em especial nossas grandes instituições sociais, concordam com os conceitos de uma visão de inundo obsoleta, uma percepção da realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo superpovoado e globalmente interligado.

Há soluções para os principais problemas de nosso tempo, algumas delas até mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores. E, de fato, estamos agora no princípio dessa mudança fundamental de visão do mundo na ciência e na sociedade, uma mudança de paradigma tão radical como o foi a revolução copernicana. Porém, essa compreensão ainda não despontou entre a maioria dos nossos líderes políticos. O reconhecimento de que é necessária uma profunda mudança de percepção e de pensamento para garantir a nossa sobrevivência ainda não atingiu a maioria dos lideres das nossas corporações. Nem os administradores e os professores das nossas grandes universidades.

Nossos líderes não só deixam de reconhecer como diferentes problemas estão inter-relacionados; eles também se recusam a reconhecer como as suas assim chamadas soluções afetam as gerações futuras. A partir do ponto de vista sistêmico, as únicas soluções viáveis são as soluções "sustentáveis". O conceito de sustentabilidade adquiriu importância-chave no movimento ecológico e é realmente fundamental. Lester Brown, do Worldwatch lnstitule, deu uma definição simples, clara e bela: "Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras." Este, em resumo, é o grande desafio do nosso tempo: criar comunidades sustentáveis — isto é. ambientes sociais e culturais onde podemos satisfazer as nossa necessidades e aspirações sem diminuir as chances das gerações futuras.

A Mudança de Paradigma

Na minha vida de físico, meu principal interesse tem sido a dramática mudança de concepções e de idéias que ocorreu na física durante as três primeiras décadas deste século, e ainda está sendo elaborada em nossas atuais teorias da matéria. As novas concepções da física têm gerado uma profunda mudança em nossas visões de mundo; da visão de mundo mecanicista de Descartes e de Newton para uma visão holística, ecológica.

A nova visão da realidade não era, em absoluto, fácil de ser aceita pelos físicos no começo do século. A exploração dos mundos atômico e subatômico colocou-os em contato com uma realidade estranha e inesperada. Em seus esforços para apreender essa nova realidade, os cientistas ficaram dolorosamente conscientes de que suas concepções básicas, sua linguagem e todo o seu modo de pensar eram inadequados para descrever os fenômenos atômicos. Seus problemas não eram meramente intelectuais, mas alcançavam as proporções de uma intensa crise emocional e, poder-se-ia dizer, até mesmo existencial. Eles precisaram de um longo tempo para superar essa crise, mas, no fim, foram recompensados por profundas introvisões sobre a natureza da matéria e de sua relação com a mente humana.

As dramáticas mudanças de pensamento que ocorreram na física no principio deste século têm sido amplamente discutidas por físicos e filósofos durante mais de cinqüenta anos. Elas levaram Thomas Kuhn à noção de um "paradigma" científico, definido como "uma constelação de realizações — concepções, valores, técnicas, etc. — compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por essa comunidade para definir problemas e soluções legítimos". Mudanças de paradigmas, de acordo com Kuhn, ocorrem sob a forma de rupturas descontínuas e revolucionárias denominadas "mudanças de paradigma".

Hoje, vinte e cinco anos depois da análise de Kuhn, reconhecemos a mudança de paradigma em física como pane integral de uma transformação cultural muito mais ampla. A crise intelectual dos físicos quânticos na década de 20 espelha-se hoje numa crise cultural semelhante, porém muito mais ampla. Conseqüentemente, o que estamos vendo é uma mudança de paradigmas que está ocorrendo não apenas no âmbito da ciência, mas também na arena social, em proporções ainda mais amplas.5 Para analisar essa transformação cultural, generalizei a definição de Kuhn de um paradigma científico até obter um paradigma social, que defino como "uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade, que dá forma a urna visão particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza".

O paradigma que está agora retrocedendo dominou a nossa cultura por várias centenas de anos, durante as quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente o restante do mundo. Esse paradigma consiste em várias idéias e valores entrincheirados, entre os quais a visão do universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado, a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e tecnológico, e — por fim, mas não menos importante — a crença em que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior à do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza. Todas essas suposições têm sido decisivamente desafiadas por eventos recentes. E, na verdade, está ocorrendo, na atualidade, uma revisão radical dessas suposições.

Ecologia Profunda

O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo "ecológica" for empregado num sentido muito mais amplo e mais profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos).

Os dois termos, "holísticos" e "ecológico", diferem ligeiramente em seus significados, e parece que "holístico" é uni pouco menos apropriado para descrever o novo paradigma. Uma visão holística, digamos, de uma bicicleta significa ver a bicicleta como uni todo funcional e compreender, em conformidade com isso, as interdependências das suas partes. Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social — de onde vêm as matérias-primas que entram nela, como foi fabricada, como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada, e assim por diante. Essa distinção entre "holístico" e "ecológico" é ainda mais importante quando falamos sobre sistemas vivos, para os quais as conexões com o meio ambiente são muito mais vitais.

O sentido em que eu uso o termo "ecológico" está associado com uma escola filosófica específica e, além disso, com um movimento popular global conhecido corno "ecologia profunda", que está, rapidamente, adquirindo proeminência. A escola filosófica foi fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess, no início da década de ‘70, com sua distinção entre "ecologia rasa" e "ecologia profunda". Esta distinção é hoje amplamente aceita como um termo muito útil para se referir a uma das principais divisões dentro do pensamento ambientalista contemporâneo.

A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no ser humano. Ela vê os seres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de "uso", à natureza. A ecologia profunda não separa seres humanos — ou qualquer outra coisa — do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida.

Em última análise, a percepção da ecologia profunda é percepção espiritual ou religiosa. Quando a concepção de espírito humano é entendida como o modo de consciência no qual o indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmos como um todo, torna-se claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência mais profunda. Não é, pois, de se surpreender o fato de que a nova visão emergente da realidade baseada na percepção ecológica profunda é consistente com a chamada filosofia perene das tradições espirituais, quer falemos a respeito da espiritualidade dos místicos cristãos, da dos budistas, ou da filosofia e cosmologia subjacentes às tradições nativas norte-americanas.

Há outro modo pelo qual Arne Naess caracterizou a ecologia profunda. "A essência da ecologia profunda", diz ele, "consiste em formular questões mais profundas." É também essa a essência de uma mudança de paradigma. Precisamos estar preparados para questionar cada aspecto isolado do velho paradigma. Eventualmente, não precisaremos nos desfazer de tudo, mas antes de sabermos isso, devemos estar dispostos a questionar tudo. Portanto, a ecologia profunda faz perguntas profundas a respeito dos próprios fundamentos da nossa visão de mundo e do nosso modo de vida modernos, científicos, industriais, orientados para o crescimento e materialistas. Ela questiona todo esse paradigma com base numa perspectiva ecológica: a partir da perspectiva de nossos relacionamentos uns com os outros, com as gerações futuras e com a teia da vida da qual somos parte.

Ética

Toda a questão dos valores é fundamental para a ecologia profunda; é, de fato, sua característica definidora central. Enquanto que o velho paradigma está baseado em valores antropocêntricos (centralizados no ser humano), a ecologia profunda está alicerçada em valores ecocêntricos (centralizados na Terra). É uma visão de mundo que reconhece o valor inerente da vida não-humana. Todos os seres vivos são membros de comunidades ecológicas ligadas umas às outras numa rede de interdependências. Quando essa percepção ecológica profunda torna-se parte de nossa consciência cotidiana, emerge um sistema de ética radicalmente novo.

Essa ética ecológica profunda é urgentemente necessária nos dias de hoje, e especialmente na ciência, uma vez que a maior parte daquilo que os cientistas fazem não atua no sentido de promover a vida nem de preservar a vida, mas sim no sentido de destruir a vida. Com os físicos projetando sistemas de armamentos que ameaçam eliminar a vida do planeta, com os químicos contaminando o meio ambiente global, com os biólogos pondo à solta tipos novos e desconhecidos de microorganismos sem saber as conseqüências, com psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso científico — com todas essas atividades em andamento, parece da máxima urgência introduzir padrões "ecoéticos" na ciência.

Geralmente, não se reconhece que os valores não são periféricos à ciência e à tecnologia, mas constituem sua própria base e força motriz. Durante a revolução científica no século XVII, os valores eram separados dos fatos, e desde essa época tendemos a acreditar que os fatos científicos são independentes daquilo que fazemos, e são, portanto, independentes dos nossos valores. Na realidade, os fatos científicos emergem de toda uma constelação de percepções, valores e ações humanas — em uma palavra, emergem de um paradigma — dos quais não podem ser separados. Embora grande parte das pesquisas detalhadas possa não depender explicitamente do sistema de valores do cientista, o paradigma mais amplo, em cujo âmbito essa pesquisa é desenvolvida, nunca será livre de valores. Portanto, os cientistas são responsáveis pelas suas pesquisas não apenas intelectual, mas também moralmente. Dentro do contexto da ecologia profunda, a visão segundo a qual esses valores são inerentes a toda a natureza viva está alicerçada na experiência profunda, ecológica ou espiritual, de que a natureza e o eu são um só. Essa expansão do eu até a identificação com a natureza é a instrução básica da ecologia profunda, como Arne Naess claramente reconhece:

"O cuidado flui naturalmente se o "eu" é ampliado e aprofundado de modo que a proteção da Natureza livre seja sentida e concebida como proteção de nós mesmos... Assim como não precisamos de nenhuma moralidade para nos fazer respirar... [da mesma forma] se o seu "eu", no sentido amplo dessa palavra, abraça uma outro ser, você não precisa de advertências morais para demonstrar cuidado e afeição... você o faz por si mesmo, sem sentir nenhuma pressão moral para fazê-lo... Se a realidade é como é experimentada pelo eu ecológico, nosso comportamento, de maneira natural e bela, segue normas de estrita ética ambientalista.

O que isto implica é o fato de que o vínculo entre uma percepção ecológica do mundo e o comportamento correspondente não é uma conexão lógica, mas psicológica. A lógica não nos persuade de que deveríamos viver respeitando certas normas, uma vez que somos parte integral da teia da vida. No entanto, se temos a percepção, ou a experiência, ecológica profunda de sermos parte da teia da vida, então estaremos (em oposição a deveríamos estar) inclinados a cuidar de toda a natureza viva. De fato, mal podemos deixar de responder dessa maneira.

Mudança da Física para as Ciências da Vida

Chamando a nova visão emergente da realidade de "ecológica" no sentido da ecologia profunda, enfatizamos que a vida se encontra em seu próprio cerne. Este é um ponto importante para a ciência, pois, no velho paradigma, a física foi o modelo e a fonte de metáforas para todas as outras ciências. "Toda a filosofia é como uma árvore" escreveu Descartes. "As raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos são todas as outras ciências”.

A ecologia profunda superou essa metáfora cartesiana. Mesmo que a mudança de paradigma em física ainda seja de especial interesse porque foi a primeira a ocorrer na ciência moderna, a física perdeu o seu papel como a ciência que fornece a descrição mais fundamental da realidade. Entretanto, hoje, isto ainda não é geralmente reconhecido. Cientistas, bem como não-cientistas, freqüentemente retêm a crença popular segundo a qual "se você quer realmente saber a explicação última, terá de perguntar a um físico", o que é claramente uma falácia cartesiana. Hoje, a mudança de paradigma na ciência, em seu nível mais profundo, implica uma mudança da física para as ciências da vida.

Trechos retirados de "A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos", Capra, F. 1996. São Paulo: Cultrix, p. 23-29.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dia da Terra, momento de Ação!


A mensagem desse anúncio diz: “Você não pode ser lento em uma emergência. Aja agora pelo planeta”.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Contaminação por transgênicos põe em risco o meio ambiente e viola o Direito dos Agricultores


A Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná – SEAB divulgou, no dia 6 de abril, os resultados do “Plano de Monitoramento do fluxo gênico entre lavoura de milho transgênico e não transgênico na região Oeste do Paraná”. O estudo possui rigor científico e comprova a contaminação de lavouras comuns pelo milho transgênico, mesmo dentro das regras estipuladas pela CTNBio. O estudo foi divulgado através de uma Nota Técnica, que reúne metodologia, resultados e conclusões dos dados produzidos durante o monitoramento das lavouras de milho no oeste do estado, durante a safrinha de 2009 (fevereiro a junho).

Os resultados apontaram que, mesmo se o agricultor seguir corretamente as orientações estabelecidas pela Resolução Normativa nº 04 editada pela CTNBio, o percentual de contaminação é muito alto. “Os dados confirmam que a Resolução Normativa nº 04 não é suficiente para assegurar a proteção da integridade do patrimônio genética prevista no Art. 225 da Constituição Federal de 1988”, afirma o documento técnico. Pela norma, o produtor de milho transgênico deve respeitar uma distância de 100 metros ou de 20 metros vazios mais 10 fileiras de milho das lavouras vizinhas.

Os dados revelam que, mesmo considerando-se uma distância maior do que a exigida pela RN 4, a contaminação foi maior do que 1% em todas as faixas de 25, 30, 60, 90 e 120m de distância do cultivo de milho transgênico. A análise do seqüenciamento do DNA aponta o percentual de grãos transgênicos em relação ao número total de grãos por espiga. De acordo com as regras nacionais de rotulagem, uma produção com um índice maior do que este deve ser rotulado como transgênico. Se este milho fosse destinado para mercado orgânico, onde o índice de transgenia deve ser 0%, a produção estaria comprometida, assim como a certificação do produtor. Para o mercado europeu, o produto também seria rechaçado, já que a certificação NON-GMO possui tolerância de 0,9%.

Dados da pesquisa aumentam insegurança quanto aos transgênicos – A pesquisa da Seab utilizou dois testes: o de fita (que detecta a produção da toxina Cry1ab geneticamente modificada na semente) e a análise laboratorial de PCR tempo real (real time polymerase chain reaction). O estudo comprovou a presença de genes transgênicos e a troca de genes entre as plantas em um índice que varia de 0,7% e 4,4% a 90 metros de distância e de até 1,3% a 120 metros de distância da lavoura transgênica. Plantas como o milho trocam pólen entre si, sendo que cada uma pode produzir de 4 a 20 milhões de grãos de pólen. Portanto, tomando-se a estimativa mais conservadora, espera-se 44.000 grãos de pólen de uma planta transgênica a uma distância de 200 m.

Os resultados da pesquisa foram observados com isolamento maior do que estabelecido pela Resolução Normativa n.4, o que leva a concluir que a contaminação acontece em níveis significativos. O estudo comprova também que a contaminação acontece com as lavouras ainda no campo, antes de serem colhidas. Com isso, fica descartada a possibilidade de separar as culturas no restante da cadeia produtiva.

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domingo, 18 de abril de 2010

PODEMOS SER A PRÓXIMA CIVILIZAÇÃO PERDIDA?

Podemos ser a próxima civilização perdida? Mitologicamente falando sim!



Quem Somos...

De onde viemos...

Para onde vamos?

Relato extraído dos extras do DVD 10.000AC, com Graham Hancock, autor de "As Digitais dos Deuses".

‘A crise ecológica é mais grave que a econômica’


Michael Löwy, o autor do Manifesto Ecossocialista Internacional propõe uma revolução social frente ao capitalismo. Michael Löwy, sociólogo e filósofo marxista franco-brasileiro, é professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e co-autor do Manifesto Ecossocialista Internacional.

A entrevista é de Alfonso González e está publicada no jornal espanhol La Voz de Galicia, 07-04-2010. A tradução é do Cepat.

Qual é o seu posicionamento em relação à crise do modelo capitalista?

Trato de colocar que as crises econômica e ecológica estão muito vinculadas e são aspectos de uma mesma crise fundamental da civilização ocidental capitalista e industrial moderna, que chegou a um ponto dramático. Para mim, a crise ecológica é mais grave, mesmo que menos aparente, que a financeira porque coloca em perigo a vida no Planeta. E se fazem necessário mudanças muito radicais.

O que o ecossocialismo propõe?

A necessidade de uma profunda mudança, revolucionária, não apenas das relações de propriedade, mas do próprio aparelho produtivo, do paradigma de produção e de tudo o que representa a civilização do capitalismo industrial moderno. A alternativa é uma sociedade ecossocialista, na qual é a população que decide as prioridades da produção e do consumo em função de suas necessidades sociais e do respeito aos equilíbrios ecológicos, não em função do benefício do capital.

Pode-se chegar a esse modelo nos países ocidentais com os atuais partidos socialistas ou de esquerda?

Mais que pelos partidos é preciso começar pelas pessoas, pela população, pelos trabalhadores. E não só nos países ricos. Na América Latina as lutas ecossociais estão mais avançadas e têm grande eco em comunidades indígenas que defendem as florestas do capital multinacional. Aqui na Europa é preciso começar por lutas locais concretas. Por exemplo, a luta por transportes coletivos gratuitos em vez do carro particular, que já está se levando a cabo em várias cidades. Ainda não é o ecossocialismo, mas é um primeiro ponto. Há uma dialética entre lutas concretas locais como essas e uma visão de conjunto mais ampla de transformação da sociedade.

As medidas que estão sendo adotadas pelos governos têm alguma serventia?

As políticas aplicadas pelos governos não creio que vão resolver a crise, são medidas restritas aos marcos da própria lógica do capitalismo neoliberal. Necessitamos de medidas mais radicais que enfrentem os interesses privados do capital e uma reorganização da economia. Mas isso, os governos não farão e os mercados também não.

O que procede, então, é outra revolução?

Procede uma transformação social radical e se se quer se pode chamar revolução. Agora, isso não significa que enquanto não houver uma revolução não possamos fazer nada. É preciso colocar, como dizia, medidas concretas em função dos interesses dos trabalhadores, que sejam sociais e ecológicas. Sabemos que os governos não vão tomá-las, mas se houver pressão social suficiente, se verão obrigados a fazer alguma coisa.

Marx ressuscitou?

A ideia de que Marx morreu é velha e cada vez que o matam ressuscita. Os economistas oficiais creem hoje que é interessante para entender a crise. Mas, para além de utilizá-lo para entender a crise, Marx faz uma análise e um diagnóstico de como funciona o capitalismo e a perspectiva de uma alternativa radical.

Se a mudança não se produzir, que futuro nos espera?

Os analistas sociais já têm dificuldade para entender o passado e o presente, e muito mais o futuro. O que podemos fazer são predições condicionais. Como diziam os profetas do Antigo Testamento, se não mudarmos sobrevém uma catástrofe. Podemos prever que se seguirmos com este sistema, com os negócios de sempre, vamos ter uma crise ainda mais grave, econômica e ecológica. Temos que tomar consciência da necessidade de uma mudança de rumo, confiando na racionalidade dos seres humanos, sobretudo dos oprimidos e explorados, para que as coisas mudem.

Fonte: Ecodebate

Picnics vegetarianos movimentam Porto Alegre


Desde de julho de 2009, picnics vegetarianos vêm acontecendo em Porto Alegre (RS).

"É um momento para vegetarianos, veganos, ativistas ou não, e também pessoas que desejam saber mais sobre o vegetarianismo falarem temas pertinentes ao vegetarianismo, da atualidade, trocar receitas, entre outros", explicou Leonardo Rocha, que é organizador do evento, tem 19 anos e é vegetariano há 2

Ele conta que a ideia surgiu por causa de um bolo de chocolate vegano! "Meu amigo Rafael havia feito um bolo de chocolate com cobertura e disse que não iria me dar um pedaço, então falei 'vamos fazer um picnic e tu leva o bolo para eu experimentar'".

A partir daí, Leonardo passou a postar tópicos em uma comunidade do Orkut onde outros participantes acabaram apoiando a ideia. O primeiro picnic aconteceu na tarde do dia 18 de julho de 2009 e, segundo Leonardo, novos encontros acontecem mensalmente no Jardim Botânico e atraem uma média de vinte pessoas. "Em 2010 iniciamos a jornada itinerante pelos parques da capital".

Para participar do picnic, a pessoa deve levar um prato vegano. "Além da comida, sempre pedimos que levem uma toalha ou banquinho, pois é interessante sentar na grama, e também um copo retornável, já que não queremos produzir lixo."

Leonardo explica que dessa forma todos os participantes "desfrutar, todavia não mandamos embora alguém que se engane e leve algo com ovo e leite".

PRÓXIMO ENCONTRO

O próximo picnic vegetariano acontece no dia 17 de abril, no Parque Moinhos de Vento (Parcão), a partir das 14h.

Fonte: Vida Vegetariana

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O princípio ganha-ganha


por Leonardo Boff

Se olharmos o mundo como um todo, percebemos que quase nada funciona a contento. A Terra está doente. E como somos, enquanto humanos, também Terra (homem vem de humus), nos sentimos também, de certa forma, doentes.

Parece-nos evidente que não podemos prosseguir nesse rumo pois nos levaria a um abismo. Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construimos o princípio de auto-destruição acrescido pelo aquecimento global irreversível. Isso não é fantasia holywoodiana. Entre estarrecidos e perplexos, nos perguntamos: como chegamos a isso? Como vamos sair desse impasse global? Que colaboração cada um pode dar?

Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador da sociedade-mundo, principal responsável por esse curso perigoso. É o tipo de economia que inventamos com a cultura que a acompanha que é de acumulação privada, de consumismo não solidário a preço da pilhagem da natureza. Tudo é feito mercadoria para a troca competitiva. Nessa dinâmica só o mais forte ganha, Os outros perdem ou se agregam como sócios subalternos ou desaparecem. O resultado desta lógica da competição de todos contra todos e da falta de cooperação é a transferência fantástica de riqueza para poucos fortes, os grandes conglomerados a preço do empobrecimento geral.

Mas há que reconhecer: por séculos, essa troca competitiva conseguia abrigar a todos, bem ou mal, sob seu guarda-chuva. Criou mil facilidades para a existência humana. Mas hoje, as possibilidades deste tipo de economia estão se esgotando como o evidenciou a crise econômico-financeira de 2008. A grande maioria dos países e das pessoas se encontram excluidas. O próprio Brasil não passa de um sócio subalterno dos grandes, com a função a ele reservada de ser um exportador de matérias primas e não um produtor de inovações tecnológicas que lhe dariam os meios para moldar seu próprio futuro. Não nos descolonizamos ainda totalmente.

Ou mudamos ou a vida na Terra corre risco. Onde buscar o princípio articulador de uma outra forma de vivermos juntos, de um novo sonho para frente? Em momentos de crise total e estrutural precisamos consultar a fonte originária de tudo: a natureza. Ela nos ensina, o que as ciências da Terra e da vida já há muito nos estão dizendo: a lei básica do universo, não é a competição que divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui. Todas as energias, todos os elementos, todos os seres vivos, das bactérias aos seres mais complexos, são interdependentes. Uma teia de conexões os envolve por todos os lados, fazendo-os seres cooperativos e solidários, conteúdo maior do projeto socialista. Por causa desta teia chegamos até aqui e poderemos ter futuro para frente.

Aceito este dado, temos condições de formular uma saída para as nossas sociedades. Ha que se fazer conscientemente da cooperação, um projeto pessoal e coletivo, coisa que não se viu em Copenhague na COP-15 sobre o clima. Ao invés da troca competitiva onde só um ganha e os demais perdem, devemos fortalecer a troca complementar e cooperativa, o grande ideal dos andinos do “bem viver”(sumak kawsay) pelo qual todos ganham porque todos participam. Importa assumir o que a mente brilhante do Nobel de matemática John Nesh formulou: o princípio do ganha-ganha, pelo qual todos dialogando e cedendo saem beneficiados sem haver perdedores.

Para conviver humanamente inventamos a economia, a política, a cultura, a ética e a religião. Mas desnaturamos estas realidades “sagradas” envenenando-as com a competição e o individualismo, dilacerando assim o tecido social.

A nova centralidade social e a nova racionalidade necessária e salvadora está fundada na cooperação, no pathos, no sentimento profundo de pertença, de familiaridade, de hospitalidade e de irmandade com todos os seres. Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior.

*Leonardo Boff é autor de Cuidar da Terra - salvar a vida a sair pela Record (2010).

Leonardo Boff é teólogo e professor emérito de ética da UERJ.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Já há conflito pela água no norte de Minas


O norte do Estado de Minas Gerais é uma região que apresenta déficit hídrico, pois chove pouco e concentrado em apenas três meses do ano. Quase todos os rios e córregos não são perenes, eles secam durante a estiagem e, por isso, as prefeituras têm que se valer de carros pipas para atender a população em algumas áreas rurais.

Mesmo assim, quase não se tinha notícias da existência de conflitos pelo uso da água, talvez pelo caráter pacífico e solidário do povo da região. Agora, porém, algo está mudando. Infelizmente, já se apresenta um conflito localizado em um dos rios da bacia hidrográfica do norte mineiro.

No município de Mato Verde existe um barramento no Rio Garipau (pertencente à bacia do Rio Gorutuba) de onde é feita uma captação com onze derivações para abastecimento humano de algumas comunidades. Essa captação ocorre há mais de 34 anos e, através de ramais secundários, atende aproximadamente duas mil famílias no município.

Entretanto, pessoas de má-fé, usando de informações falseadas, conseguiram uma certidão de uso insignificante junto aos órgãos ambientais do Estado e iniciaram uma obra de instalação de tubulações para captação de água à montante do barramento, denominado Barragem Catolé.

Este fato gerou o conflito, pois as comunidades que já fazem o uso dessa água, à jusante da barragem, reclamaram que, no período de estiagem, poderiam vir a ter falta do precioso líquido, tendo em vista que o volume é insuficiente até para os próprios usuários atuais.

A prefeitura de Mato Verde agiu rapidamente para solucionar o problema. Procurou o órgão gestor de recursos hídricos do Estado, o IGAM, que orientou a prefeita para providenciar a legalização ambiental dos atuais usuários de Mato Verde.

Nesse caso, o processo de outorga coletiva é o procedimento a ser adotado imediatamente e, para isto, se faz necessário providenciar a Declaração de Área de Conflito - DAC, documento emitido pelo IGAM. Para surpresa, essa declaração já existia desde 2006 e o processo de outorga coletiva pode ser formalizado.

Outra providência já tomada foi o cancelamento da certidão de uso insignificante obtida pelas pessoas estranhas que estavam tentando retirar água à montante da captação atual.

Este assunto já foi levado também para o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Verde Grande, agora atuando através da Comissão da Bacia do Rio Gorutuba, que é a instância adequada para a administração desse tipo de conflito.

Espera-se uma solução o mais rápido possível já que o próprio IGAM tem um grande interesse no assunto.

* Aroldo Cangussu, colaborador e articulista do EcoDebate, é engenheiro, ex-secretário municipal de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.

(EcoDebate)

sábado, 3 de abril de 2010

Roda Viva - com Jeffrey Smith



Jeffrey Smith
Jornalista, diretor-executivo do Institute For Responsible Technology

Nesta segunda-feira, as 22h o Roda Viva apresenta a entrevista gravada com o jornalista americano Jeffrey Smith, fundador do Instituto Pela Tecnologia Responsável.

Jeffrey Smith é um dos maiores críticos da produção de alimentos geneticamente modificados. Em seu trabalho, ele levanta questões sobre a produção de transgênicos, rebate os argumentos da indústria e apresenta falhas na regulamentação de produtos que utilizam transgênicos.

O Instituto Pela Tecnologia Responsável, fundando por ele, financia pesquisas independentes de segurança de alimentos. Os dados levantados fazem parte dos argumentos utilizados por ele para explicar que a produção e consumo de alimentos transgênicos oferecem riscos aos humanos e ao meio ambiente.

Jeffrey Smith lidera uma campanha para uma alimentação mais saudável nos Estados Unidos - um movimento que pretende remover todos os organismos geneticamente modificados da indústria de alimentos naturais.

Participam como convidados entrevistadores:
Washington Novaes, jornalista e supervisor do quadro Biodiversidade do programa Repórter ECO, da TV Cultura e articulista do jornal O Estado de S. Paulo; Fernando Lopes, editor de Agronegócios do jornal Valor Econômico; Alexandre Mansur, editor de ciência e tecnologia da revista Época e Flavio FInardi Filho, professor associado da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Colaboradores:
Maira Begalli, gestora ambiental (http://twitter.com/mabegalli); Isis Diniz, jornalista (http://twitter.com/isisrnd); Jorge Cordeiro, assessor de imprensa da ONG Greenpeace (https://twitter.com/jhcordeiro) e Manoel Jr
Analista de sistemas (http://www.flickr.com/photos/manoelbr).

Apresentação: Heródoto Barbeiro

O Roda Viva é apresentado às segundas a partir das 22h00.
Você pode assistir on-line acessando o site no horário do programa.
www2.tvcultura.com.br/rodaviva

Chamada do programa: www.youtube.com/watch?v=8EKFPx_XwXg

quinta-feira, 1 de abril de 2010

WSPA e Ecosul promovem campanha contra a Farra do Boi


"Santa Catarina está com o orgulho ferido". Essa é uma das frases que ilustram a campanha promovida pelo Instituto Ambiental Ecosul contra a Farra do Boi. Em parceria com a WSPA e outras organizações de proteção animal, o Ecosul tem como objetivo alertar "farristas", financiadores e estimuladores para o crime que estão cometendo contra os animais e, ainda, sensibilizar e estimular a sociedade a exercer sua cidadania e denunciar as farras ou pessoas que se envolvem nessa prática.

Dentre as ações planejadas para a campanha, estão manifestações, distribuição de material em estabelecimentos comerciais (como clínicas veterinárias), depoimentos na imprensa, entre outras atividades que chamarão a atenção da sociedade para o crime.
A Farra do Boi é crime

A Farra do Boi é um dos rituais mais violentos que envolvem maus-tratos contra animais. O evento acontece com mais frequência durante a Quaresma. Esse período se inicia na Quarta-feira de Cinzas e termina na Sexta-feira Santa. Além de cruel e violenta, a Farra do Boi vai contra aos esforços conquistados pela sociedade por uma legislação de proteção aos animais, já que essa prática descumpre a decisão judicial do Supremo Tribunal Federal, o artigo 225 da Constituição Federal e a Lei de Crimes Ambientais. Veja o que fala cada um deles:

- Em 1997, o Supremo Tribunal Federal expediu decisão judicial (153.531-8) que considera a Farra do Boi crueldade contra os animais, ofensiva ao inciso VII do Art.225 da Constituição Federal, e proíbe sua realização, ainda que sem violência e dentro dos mangueirões, sob pena de responsabilização de seus agentes.

- O capítulo VI da Constituição Federal fala em seu Art. 225 que cabe ao Poder Público: Proteger a fauna e a flora vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

- A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) em seu Art. 32 determina: Praticar atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos - Pena com detenção de três meses a um ano e multa.

§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
A luta pelo fim da crueldade

Halem Nery Guerra, presidente do Instituto Ambiental Ecosul, fala que a sua luta pelo fim da Farra do Boi já se estende por 28 anos. Desde 1982, quando foi fundada a primeira entidade de proteção animal catarinense, a Associação Catarinense de Proteção aos Animais (ACAPRA), já existiam campanhas sistemáticas, pressão das autoridades, enfrentamento com os farristas e financiadores.

– Com o tempo fomos avançando e obtendo algumas conquistas como o acórdão do STF em 1997, a Lei de Crimes Ambientais em 1998 e determinação da justiça que condenou em 2009 o estado de Santa Catarina a pagar uma multa de 1 milhão de reais. Como já era de se esperar, o estado recorreu da decisão, mas não tem como escapar, um dia eles terão que pagar. A farra do boi prossegue em algumas localidades e o valor da multa só aumenta à medida que os dias passam - explica Guerra.
Saiba como ajudar e denunciar

Não seja conivente com os maus-tratos aos animais. Se você souber ou presenciar a Farra do Boi, denuncie e exija a interferência de alguma das autoridades abaixo:
Polícia Civil

Gov. Celso Ramos: (48) 3262-0148
Barra do Sul: (47) 3448-1188
Navegantes: (47) 3342-1099 / 3342-1059
Penha: (47) 3345-0777 / 9880-8881
Porto Belo: (47) 3369-4481 / 9961-5501
Bombinhas: (47) 3369-1336 / 8414-0388
Paulo Lopes: (48) 3253-0190
Garopaba: (48) 3644-0089 / 8407-2450
Campeche: (48) 3333-5525 / 9981-2541
Pantanal: (48) 9972-3129
Ingleses: (48) 3266-1872 e 8406-4564
Barra da Lagoa: (48) 3232-0500 / 9947-1870
Polícia Militar

Fone 190

4° BPM Florianópolis: (48) 8419-7495 / 9972-8475
7° BPM São José: (48) 8419-7487
Guarnição de Palhoça: (48) 9971-5072
Pelotão Garopaba: (48) 3254-3287 / 3254-3534
Grupamento Gov. Celso Ramos: (48) 3262-8345
CPPA (Cia. de Polícia de Proteção Ambiental)

Florianópolis: (48) 3269-7111
Palhoça: (48) 3292-6000
Tijucas: (48) 3263-0193

Fonte: WSPA