terça-feira, 11 de agosto de 2009

Compra local


(Cerejas direto do fazendeiro)

Uma bandeira que se torna cada vez mais forte aqui nos EUA, mas ainda não sensibiliza ninguém aí no Brasil, é a campanha para comprar produtos locais. Por todo lado por aqui se vê cartazes “buy local”, “locally grown”, “locally produced”, “locally owned” – os comerciantes, agricultores e proprietários de empresas fazem questão de anunciar que vivem na comunidade onde trabalham. E muitos consumidores fazem questão de serem fregueses desse pessoal, como uma forma de incentivar o empreendedorismo e não mandar o seu dinheiro para longe de casa.

Li outro dia numa reportagem do jornal SF Guardian, de San Francisco, que os produtos locais estão fazendo tanto sucesso que até as grandes redes estão falsamente apelando para o marketing do “local” como uma forma de atrair fregueses. A livraria Barnes & Noble, maior vendedora de livros do mundo, adotou o slogan “toda livraria é local”. A rede de supermercados Wal-Mart colocou cartazes com a palavra “local” perto dos legumes e verduras. O HSBC, um banco internacional gigantesco, apelidou-se de “o banco local do mundo”. O Conselho Internacional de Shopping Centers começou uma campanha nacional para as pessoas comprarem de negócios locais – isso é, do shoping center do seu bairro.

O fato é que “comprar local” não significa ir para a loja local de uma grande cadeia – significa gastar seu dinheiro numa pequena empresa cujo dono mora perto de você. Ao fazer isso, você garante que o dinheiro ficará no seu bairro. Ou seja, você acaba sendo indiretamente favorecido. Aqui nos EUA, calcula-se que 45 a cada 100 dólares gastos em negócios locais ficam na comunidade. Muito mais do que os 13 de cada 100 dólares gastos em lojas de rede. Comprar local também ajuda a fortalecer a classe média – o dinheiro premia pequenos empreendedores, em vez de ir parar nas mãos de executivos engravatados dos infinitos níveis hierárquicos das grandes corporações. Sem falar que incentivar o comércio local pode reduzir a emissão de carbono, ao diminuir a necessidade de transportar produtos por grandes distâncias. E, no meio da crise cataclísmica que está assolando o país, cidades com comércio local mais forte estão se saindo melhor do que lugares altamente dependentes de redes e corporações.

Outra vantagem é que incentivar o comércio local torna as cidades mais interessantes. San Francisco, que tem leis rigorosas para desestimular a chegada de grandes redes, tem um comércio absurdamente variado e divertido. Austin, no Texas, outra cidade que preza o comércio independente, tem um dos aeroportos onde se come melhor no país. Todos os restaurantes e lanchonetes do aeroporto são de donos locais. País afora, já há 4.385 “mercados de fazendeiros”, pequenas feiras de rua mantidas pelos agricultores locais. Um terço deles não existia em 2000. Não tem lugar melhor para tomar café da manhã num domingo de sol. Outro exemplo da “onda local” são as hortas comunitárias que estão se espalhando por cidades americanas, em especial na Califórnia, mas até aqui, nesta ultra-urbana Nova York de onde escrevo. As pessoas estão plantando seu almoço em vez de ir a uma rede de supermercados.

Por Denis Russo Burgierman

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