quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ar da Terra é dividido por "equador químico"


Uma "barreira" climática mundial capaz de impedir que a poluição do ar viaje para o sul foi descoberta, de acordo com um novo estudo. Conhecida como "equador químico", a fronteira de 50 quilômetros de largura separa o ar poluído do Hemisfério Norte do ar menos poluído do Hemisfério Sul.

O monóxido de carbono, um gás tóxico gerado por incêndios em florestas e motores de combustão interna, cresce de 40 partes por bilhão ao sul da barreira para 160 partes por bilhão ao norte dela, os cientistas constataram. As partículas de aerossol, produzidas pela queima de combustíveis fósseis, também aumentam dramaticamente.

A constatação foi reportada em estudo publicado pelo Journal of Geophysical Research - Atmospheres.

Descoberta acidental
O equador químico era uma suposição científica já antiga. Mas os cientistas esperavam localizá-lo na Zona de Convergência Intertropical, uma faixa marcada por tempestades e nuvens que circulam o globo perto da linha real do Equador terrestre. Mas ela na verdade foi localizada em céus claros mil quilômetros ao norte da zona, demonstrando que a divisão química e meteorológica entre os hemisférios difere.

"Seria de esperar certa dose de isolamento químico, mas não a esse ponto, e mais próxima da zona", disse Peter May, cientista atmosférico do Centro Australiano de Pesquisa do Clima e Meteorologia, em Melbourne, Austrália. Ele auxiliou a pesquisa pelo lado logístico mas não esteve envolvido no estudo em si.

O grupo de climatologistas que localizou o equador químico não tinha esse objetivo em mente ao iniciar o trabalho. Na verdade, a equipe estava estudando de que maneira tempestades transportavam produtos químicos de Darwin, na costa norte da Austrália, quando o céu de repente ficou límpido, e um vento forte começou a soprar.

"Não era o clima certo para o nosso estudo, de modo que decidimos realizar um vôo de pesquisa rumo ao norte para descobrir o que estava acontecendo", explicou Jacqueline Hamilton, da Universidade de York, na Inglaterra, a diretora científica do estudo. "Foi então que descobrimos o equador químico", ela conta.

Enquanto o avião dos cientistas, equipado com detectores químicos, viajava rumo ao norte, seus sensores detectavam uma tremenda diferença em níveis de poluentes.

Não impermeável
Mas nem todos os produtos nocivos são bloqueados, no entanto. "Os produtos químicos conseguem atravessar a barreira, por fim, caso se mantenham intactos no ar por mais que cerca de um ano", acautelou Hamilton. Embora o monóxido de carbono e diversos aerossóis sejam mantidos do outro lado da barreira, os químicos que persistem por mais tempo na atmosfera, como o dióxido de carbono, um dos gases causadores do efeito-estufa, conseguem atravessar.

"Essa constatação significa que, quando o equador químico foi observado, a poluição não estava chegando à camada mais alta da atmosfera, onde poderia alterar a química das nuvens e da camada de ozônio", disse May.

O fenômeno poderia facilitar o mapeamento de poluentes, para os pesquisadores, mas continuam a existir muitas outras incógnitas. "Estamos ainda bem no começo do estudo. Ainda temos de saber muito mais sobre como o clima e a química atmosférica interagem, antes que possamos avaliar as implicações reais dessa descoberta", ela disse.

Tradução: Paulo Migliacci

National Geographic

Nenhum comentário: